terça-feira, 12 de novembro de 2013

Havemos de lá chegar...

A AEM que reúne a maioria das empresas cotadas, defende a existência de mais mulheres nos conselhos de administração. Estranha-se a posição, dado que está nas mãos das empresas que esta associação representa resolver o problema, juntamente com os seus accionistas.     A iniciativa da AEM - que pediu ao Instituto de Corporate Governance para inserir no seu código esta recomendação - nasce sobretudo da insistência pessoal do seu presidente, Luís Palha da Silva, que se esforçou por encontrar um consenso alargado que permitisse tornar este desígnio num desejo colectivo de todas as associadas.
A questão não é exclusiva de Portugal. Na Europa, só a Noruega e a Islândia têm mais de 40% de mulheres nos seus conselhos de administração. Pior que Portugal (com 7,1%), só Malta.
Ou seja, será muito difícil negar que persiste um claro problema de sub-representação das mulheres nos conselhos de administração.

Descendo um nível, nos cargos mais técnicos de direcção, o fenómeno é já diferente, porque as portuguesas estão a alcançar, com relativa facilidade, a antecâmara do Conselho de Administração. O problema é dar o passo seguinte.
E aqui poderemos encontrar uma questão cultural. Porque, numa sociedade em que as mulheres continuam a ter, no quotidiano, a maior responsabilidade da educação e do acompanhamento dos filhos, a questão do tempo e da disponibilidade para a empresa não pode ser descartada.
Mas também é verdade que, em termos de tempo consumido, pouca diferença existirá entre pertencer à Direcção ou ao Conselho de Administração. A questão não é, pois, só de tempo. É uma questão política. De quem manda e das pessoas em quem se confia para mandar. 
As mulheres não conseguem chegar ao topo do comando -, em que o gestor tem de possuir, também, um carácter "político", de influência junto das autoridades e de contacto permanente com os accionistas - porque se considera que este "papel" será sempre melhor desempenhado pelos homens.
O mesmo fenómeno se verifica, aliás, na política, com muitas mulheres em lugares decisivos e de destaque, mas com sistemáticas dificuldades em chegar a número Um.

HSC

7 comentários:

Anónimo disse...


Um Post a ler com atenção. Esta frase lapidar, que retirei deste seu Post é revelador: "As mulheres não conseguem chegar ao topo do comando -, em que o gestor tem de possuir, também, um carácter "político", de influência junto das autoridades e de contacto permanente com os accionistas - porque se considera que este "papel" será sempre melhor desempenhado pelos homens."
Ou seja, os homens estão mais preparados para o tráfico de influências, para as negociatas sujas, para a corrupção, do que as mulheres. Louvemos as mulheres. Está na hora de se substituir a grande maioria dos homens em muitos cargos à frente de empresas, escritórios de advogados, consultadorias, etc. E o país ficará mais limpo e transparente. Por mim, nada a objectar!
P.Rufino

Virginia disse...

Vê-se aliás, a ridicularização sistemática das mulheres que ocupam lugares de ministros no nosso país. Assunção Cristas, por exemplo tem sido criticada nos media a toda a hora, o mesmo acontecendo com a Ministra da Justiça e a das Finanças. Até a Presidente da AR foi ridicularizada com fotos pouco éticas nos jornais.
Sem falar do que se passou com outras no passado, Leonor Beleza, por exemplo.
Não discuto se são boas ou más, mas que são um alvo da mesquinhez do povo, isso são.
Os homens portugueses ainda são muito conservadores e ridiculamente mesquinhos. E as mulheres também não se defendem....

Anónimo disse...

Diria antes que precisamos de homens e mulheres mais honestos, competentes e humanos no topo e de horarios menos antisociais.
Infelizmente, muitas das mulheres que chegam a lugares de chefia tornam-se psicopatas, prepotentes e idiotas como os colegas do sexo masculino e ainda por cima pisam todas as mulheres que julgam que lhes possam fazer concorrencia.
L.L.

Anónimo disse...

Não querendo ser desmancha prazeres, mas nenhum Conselho de Administração é melhor porque tem determinada percentagem de mulheres.

A qualidade mede-se na competência das pessoas presentes, que podem homens ou mulheres.

Uma mulher não traz mais a um Conselho de Administração do que um homem. Traz a sua capacidade profissional e isso é indiferente de género.

Estas obrigatoriedades morais de que têm de existir certo número deste ou daquele grupo de pessoas sempre me fizeram muita confusão.

...

Aparte disto, muitos parabéns pelo blog Doutora Helena. Apesar de ser muito jovem ainda, sou um leitor assíduo e revejo-me em muitos dos seus posts.

Parabéns!

Helena Sacadura Cabral disse...

Anónimo das 19:25
Do meu ponto de vista, em matéria de competências não haverá diferença. Mas acredite que a visão das mulheres pode ser bem diversa da dos homens na forma de encarar os problemas empresariais. Dirigi um serviço e acredite que com igual competência técnica tinha uma maior preocupação de humanidade nas soluções a aplicar.

Fatyly disse...

As dificuldades de chegarem "a número um" são realmente apontadas por si: É uma questão política, porque a competência não tão género.
Mas também há a questão da maternidade, que é tudo muito bonito mas que muitas deles após anos de boa prestação de serviço...não ssabem se serão dispensadas, rua e vai-te embora, neste país agora tão enfeitiçado!

Carlos Duarte disse...

Caro Anónimo,

Posso-lhe afiançar que está enganado. Infelizmente os Conselhos de Administração têm-se pautado por uma selecção dos seus membros tendo em conta ou uma "competência técnica" dos mesmo ou, falhando essa competência, a capacidade de influência (que a nível privado que a nível público).

No entanto, e como realça e bem a Helena, são muitas vezes Conselhos mancos, com falta de noção da realidade, agarrados a números e a influências nada saudáveis de jantaradas e "boy's clubs". Falta-lhes quase sempre noção do real e, por real, entenda-se uma concepção da empresa como algo mais que existe apenas e tão só para dar lucro a accionistas.

Esse real pode ser trazido tanto por homens como por mulheres, mas estas têm por norma tanta carga social, familiar e afectiva às costas que seriam, por comparação e em média, melhores que os homens.

Se me perguntar se acho mais saudável para uma empresa ter na administração apenas pessoas que vivem e respiram a referida empresa (o famoso "Homem Sonae" da década de 90), digo-lhe de caras que não. Seria preferível ter sempre (e em maior número) pessoas que têm de cuidar de outros e que põe a sua vida familiar à frente da sua vida profissional.