sexta-feira, 13 de março de 2009

Será possível?

Leio, angustiada, que um pai levou no carro o seu filho de nove meses, para o entregar na creche que ficava perto do seu local de trabalho. Como a criança dormisse, tranquila, quando chegou ao seu destino, decidiu deixá-la na viatura, por uns momentos, para marcar presença na reunião que o esperava. Entretanto, não mais se lembrou do assunto, embrenhado nas tarefas profissionais.
Na creche, passado algum tempo, decidiram indagar das razões da ausência do petiz. Só nesse momento o pai se lembrou do que acontecera.
Nada a fazer. A criança morrera de desidratação. Numa cidade, num automóvel estacionado ao sol, numa linda manhã de primavera. Porque um pai, preocupado com o trabalho, se "esquecera" do seu filho.
Este caso, passado entre gente dita normal, é paradigmático da forma como alguns de nós vivemos, num frenesim permanente, sem pausas, sem descanso, sem tempo para a família que voluntariamente constituímos.
Que vida vai ter este homem, depois do acontecido? E como sobreviverá a mãe e mulher do autor? Alguém consegue resistir a tamanha dor?
Ignoro se há ou não outros filhos. O que sei é que tem de haver graves perturbações numa sociedade em que tal acontece. O mundo em que vivemos parece não se dar conta de que episódios destes são sinais. Sinais de profunda alteração na escala dos nossos valores.
No fundo a labuta-se diariamente para se manter um emprego que é essencial para manter a família para a qual, afinal, nem sequer se tem tempo. Sérá a isto que se chama viver?!

H.S.C

2 comentários:

Glauciane Carvalho disse...

Talvez, esteja fazendo referência a um caso que aconteceu aqui no Brasil, recentemente. Se for este caso, o pai hoje faz tratamento psiquiátrico e vive muito mal. É uma pessoa doente, em uma depressão sem limites. Um arrependimento sem fim tomou conta de seu interior.
Nossos valores estão sendo deturpados por ganância infinita que nos remete a esquecer a importância de valores singulares como atenção à família, aos filhos e etc. Muitos homens inclusive esquecem que suas mulheres estão ali para serem absolutamente amadas. Trocam o amor pelo trabalho. Aonde vamos parar desta forma ? O amor é a base das relações humanas, quando este falta....um silêncio barulhento grita nestas minhas tantas linhas...

Pedro disse...

se é viver é aberração de viver, não é viver

só deixamos que o exterior nos invada dessa maneira se o interior está esfrangalhado ao ponto de não sabermos o que é o núcleo do que somos; passei por isso tão parecido, foi preciso estar no limite da morte e (ter a sorte de) regressar para perceber que os valores estavam corrompidos, que começam de verdade no eu

[e aquele caso do pai que foi ao futebol com o filho de meses e num golo arrebatado lançou o filho eufórico ao ar em celebração? na turba apoteótica o filho não apareceu ou imagine-se o estado no encontro - foi-me relatado como caso verídico]